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A recente troca de farpas entre o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), vai além de simples desentendimentos pessoais. Ela reflete uma disputa mais ampla e profunda dentro da esquerda brasileira, que busca se reconfigurar para o período pós-Lula.
Com sua saída iminente do cenário político, surge a dúvida: quem será capaz de sucedê-lo? E, mais importante, como a esquerda se dividirá na busca por esse protagonismo?
Saiba mais sobre a treta entre Boulos e João Campos
O PSB, partido de João Campos, defende uma aproximação com o centro e até com setores da direita em nome de uma governabilidade pragmática. Já o PSol, representado por Boulos, se posiciona como um bastião da “esquerda raiz”, defendendo uma postura mais firme e ideológica, mesmo que isso envolva menos concessões políticas.
João Campos, eleito prefeito do Recife em 2020 com um discurso fortemente antipetista, tem se aproximado de Lula conforme seu partido, o PSB, reorientou suas posições para o campo progressista.
Em sua reeleição em 2024, com 78,12% dos votos válidos, ele reforçou sua imagem como uma figura capaz de dialogar com diferentes espectros políticos, incluindo o centro e a direita, o que o coloca como um possível nome para disputar o Governo de Pernambuco em 2026.
Dentro do PSB, que ocupa atualmente a vice-presidência da República com Geraldo Alckmin, a aposta é de que João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014, será capaz de consolidar uma liderança que suceda Lula na corrida presidencial de 2030. Sua habilidade para formar alianças com partidos de centro e até com setores da direita é vista como uma grande vantagem.
Por outro lado, Guilherme Boulos, liderança do PSol e ex-candidato à presidência em 2018, representa a ala mais ideológica da esquerda. Com origem no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), ele se destacou no cenário político nacional pela defesa de pautas mais radicais, como a reforma urbana e a luta contra a desigualdade.
Em 2022, a pedido de Lula, Boulos retirou sua candidatura ao governo de São Paulo em prol de Fernando Haddad, mostrando seu alinhamento com a estratégia petista, mas sem abrir mão de suas convicções.
Boulos se vê como o “anti-Campos”, um político que não se curva às convenções e que tem como principal objetivo a preservação da identidade da esquerda.
Sua resposta às críticas de João Campos foi dura: “Não creio que ele esteja autorizado a me dar lições de coerência, até porque, em 2020, quando ele se elegeu, o mote da sua campanha foi ‘PT nunca mais’. Hoje, ele se tornou o maior lulista do país”, afirmou, destacando as mudanças de postura do prefeito do Recife ao longo do tempo.